Sermão Pregado
por Charles Haddon Spurgeon,
no Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres,
e Puclicado na Quinta Feira, 6 de agosto de 1914
“Sem derramento de sangue não há remissão.” Hebreus 9:22
Sob a antigua dispensação
figurativa, era certo de que seus olhos se topavam em qualquer canto com
o sangue. O sangue era o mais promeniente sob a economia judaica. Era
raro que se observasse alguma cerimônia sem ela. Não era possivel
adentrtar em nenhuma parte do tabernáculo sem que fosse visto os rastros
de sangue ao pé do altar. O lugar era tão semelhante a um matadouro que
visitá-lo não deve de ter sido nada atrativo para o gosto natural, e
para deleitar-se nele, o homem precisava de um entendimento espiritual e
de uma fé viva. O sacrificio de animais constituia a maneira de adorar:
a efusão de sangue era o rito estabelecido e a difusão desse sangue
sobre o piso, sobre as cortinas e sobre as vestes dos sacerdotes, era
constante memorial.
Quando Paulo[1]
diz que, sob a lei, quase todas as coisas eram purificadas com sangue,
alude a algumas coisas que estavam isentas. Assim encontrarão em
diversas passagens que o povo era exortado a lavar seus vestidos, e a
certas pessoas que haviam ficado imundas por causas físicas, lhes era
ordenado que lavassem seus vestidos com água. As roupas que os homens
usavam eram sempre purificadas com água. Depois da derrota dos
midianistas, que pode ser lida no livro de Números, o despojo que havia
sido contaminado teve que ser purificado antes que fosse reclamado pelos
vitoriosos israelitas. De acordo com a ordenança da lei que o Senhor
ordenou a Moisés, alguns dos bens, tais como idumentárias e artigos
confecionados com peles e com pelo de cabras, eram purificados com água,
enquanto que outros objetos, que eram de metais resistentes ao fogo,
eram purificados com fogo. Contudo, o apóstolo se refere a um ato
literal quando diz que quase todas as coisas – só à excessão das roupas –
eram purificadas com sangue sob a Lei. Logo, se refere a ela como uma
verdade geral sob a antigua dispensação legal, dizendo que não havia
jamais nenhum perdão de pecado, exceto pelo sangue. Unicamente em um
caso havia uma aparente excessão, e ainda nesse caso servia para
demosntrar a universalidade da regra, porque a razão para a excessão
está plenamente explicada. O sacrifício pela culpa é mencionado como uma
alternativa no versiculo 11 de Levitico 5, e podia ser uma oferta
incruenta em casos de extrema pobreza. Se um homem era muito pobre para
trazer uma oferenda do rebanho, deveria trazer duas rolinhas ou dois
pombinhos – porem se era extremadamente necessitado até mesmo para isso,
poderia oferecer a décima parte de um efa de flor de farinha como
sacrificio pela culpa, sem azeite nem incenso, a qual era lançada sobre o
fogo. Essa é a unica excessão solitária através de todos os tipos. Em
cada lugar, em cada momento e em cada caso en que o pecado tinha que ser
tirado, o sangue deveria fluir e a vida tinha que ser ofertada. A única
exceção que temos notado, recalca o estatuto que estabelece que “sem derramamento de sangue não há remissão.”
Sob o Evangelho não há nenhuma
exceção, não existe nenhuma isolada exceção, como existia na Lei – não,
nem mesmo para o mais indigente. Todos nós somos extremamente
necessitados espiritualmente. Como nenhum de nós deve apresentar uma
oferenda, nem tampouco dispomos de uma, todos temos que apresentar a
oferenda que já foi ofertada e temos que aceitar o sacrifício que Cristo
fez de Si mesmo em nosso lugar – não existe agora nenhum motivo nem
base para isentar a nenhum homem nem nenhuma mulher, nem mesmo o haverá
jamais, seja nesse mundo ou no futuro: “sem derramamento de sangue não há remissão.”
Com grande simplicidade, então, já
que concerne a nossa salvação, peço amavelmente a atenção de cada um dos
presentes para esse grande assunto que tem muito haver com nossos
interesses eternos. Eu deduzo do texto, antes que nada, o fato animador
de que:
I. EXISTE UMA REMISSÃO, quer dizer, uma remissão dos pecados. “sem derramamento de sangue não há remissão.”
O sangue foi derramado, e há, portanto, esperança no tocante à
remissão. Apesar dos severos requerimentos da Lei, a remissão não deve
de ser abandonada em absoluta desesperação. A palavra remissão quer
dizer: saldar dívidas. Assim como o pecado pode ser considerado uma
dívida contraída com Deus, assim também essa dívida pode ser apagada,
cancelada e suprimida . O pecador, o devedor de Deus, pode deixar de
estar em dívida por compensação, por uma plena quitação, e pode ficar
livre em virtude dessa remissão. Tal coisa é possível. Glória seja dada a
Deus porque é possível obter a remissão de todos os pecados para os que
tenham arrependimento. Sem importar qual possa ser a transgressão de
qualquer indivíduo, o perdão é possível para ele se é possível que tal
se arrependa. Um pecado incontrito é um pecado imperdoável. Se o homem
confessa seu pecado e o abandona, então encontrará misericórdia. Deus
tem declarado assim, e Ele nunca será infiel à Sua palavra. “Porem”,
alguém pergunta: “Não existe um pecado que é para morte?” Sim,
certamente, ainda que eu não saiba qual seja – nem tampouco cremos que
alguém que tenha pesquisado esse tema tenha sido capaz de descobrir qual
seja esse pecado – o que parece claro é que o pecado é praticamente
imperdoável porque não houve arrependimento a respeito dele. O homem que
o comete fica morto no pecado, para todos os fins e propósitos, em um
sentido mais profundo e permanente até mesmo do que a raça humana o está
como um todo, e é entregue a um coração endurecido, sua consciência é
cauterizada, por assim dizê-lo, com um ferro em brasa, e a partir dali
não buscará nenhuma misericórdia. Porem, todo tipo de pecado e de
blasfêmia serão perdoados aos homens. Para a lascívia, para o roubo,
para o adultério, sim, para o assassinato, há perdão de Deus, para que
seja reverenciado. Ele é o Senhor Deus misericordioso e clemente, que
esquece a transgressão, a iniquidade e o pecado.
E esse perdão, que é possível, é completo,
de acordo às Escrituras – quer dizer, quando Deus perdoa a um homem seu
pecado, o faz sem reservas. Ele apaga a dívida sem nenhuma revisão dos
cálculos. Ele não suprime uma parte do pecado do homem, porem o faz
responsável do resto – antes, no momento em que um pecado é perdoado, é
como se sua iniquidade nunca houvesse sido cometida; o pecador é
recebido na casa do Pai e é abraçado com o amor do Pai como se nunca
houvesse se desviado; é levado a ser aceito diante de Deus, e desfruta
da mesma condição como se nunca tivesse transgredido.
Crente, bendito seja o Senhor porque
no Livro de Deus não existe pecado nenhum contra sua pessoa. Se você
crê, é perdoado, e não é perdoado parcialmente, mas sim plenamente. O
escrito de dívida que havia contra você é apagado e é cravado na cruz de
Cristo, e nunca mais poderá ser usado contra ti. O perdão é completo.
Ainda mais, trata-se de um perdão no
ato. Alguns imaginam (e isso é algo muito depreciativo para o
Evangelho) que não podem alcançar o perdão a não ser até que morram, e
talvez, de alguma forma então muito misteriosa, nos últimos instantes,
possam ser absolvido – porem nós pregamos, em nome de Jesus, um perdão
imediato e instantâneo para todas as transgressões – um perdão dado em
um instante – no momento em que um pecador crê em Jesus. Não é como se
uma enfermidade fosse sarada gradualmente e depois fosse requerido meses
e largos anos de progresso até o restabelecimento total. É certo que a
corrupção de nossa natureza é uma enfermidade assim, e o pecado que mora
em nós tem que ser mortificado diariamente e a cada hora; porem
enquanto à culpa de nossas transgressões diante de Deus e à dívida
incorrida para com Sua justiça, sua remissão não é uma coisa progressiva
e gradual. O perdão de um pecador é concedido de imediato – será dado a
qualquer um de vocês que o aceite essa noite, sim, e lhe será dado de
tal maneira que não o perderá nunca. Uma vez perdoado, será perdoado
para sempre, e não sofrerá nenhuma das consequências do pecado. Você
será absolvido eternamente e sem reservas, de tal forma que quando os
céus estiverem ardendo em chamas, e o grande trono branco seja
levantado, e tenha lugar o juízo final, você possa apresentar-se com
determinação diante do tribunal sem temer nenhuma acusação, pois Deus
nunca revogará o perdão que Ele mesmo concede.
Irei agregar mais um comentário. O homem que alcança esse perdão pode dar-se conta de que o possui.
Se simplesmente esperasse tê-lo, essa esperança lutaria frequentemente
com o medo. Se simplesmente confiasse tê-lo, muitos remorsos de
consciência poderiam alarmá-lo – porem, saber que o possui é um firme
fundamento de paz para o coração. Glória seja dada a Deus porque os
privilégios do pacto de graça não são só assuntos de esperança e de
conjecturas, mas sim que assuntos de fé, convicção e de segurança. Não
considerem uma presunção que um homem creia na Palavra de Deus. É a
própria Palavra de Deus a que diz: “O que Nele crê não é condenado”.
Se eu creio em Jesus Cristo, então não sou condenado. Que direito tenho
de pensar que o sou? Se Deus diz que não sou condenado, seria uma
presunção de minha parte pensar que sou condenado. Não pode ser
presunção receber a Palavra de Deus tal como Ele me a dá.
“Ó!” – diz alguém – “que feliz seria se esse fosse meu caso”. Falaste bem, pois ‘bem-aventurado
aquele cuja transgressão foi perdoada, e cujo pecado foi coberto.
Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não culpa de iniquidade”.
“Mas” – dirá alguém mais – “eu
dificilmente pensaria que algo tão grande poderia ser possível para
alguém como eu”. Você raciocina à maneira dos filhos dos homens. Deve
saber então que como são mais altos os céus do que a terra, assim
são os caminhos de Deus mais altos que seus caminhos, e Seus pensamentos
mais que seus pensamentos. Teu é o errar, mas de Deus é o perdoar.
Você se extravia como um homem, porem Deus não perdoa como um homem:
Ele perdoa como um Deus, de tal forma que rompemos em exclamações de
assombro e cantamos: “Que Deus como tu, que perdoa a maldade, e olvida o pecado do remanescente de sua herança?”
Quando você faz algo, trata-se de alguma pequena obra adaptada as suas
habilidades, porem nosso Deus fez os céus. Quando você perdoa, concede
um perdão adaptado a sua natureza e suas circunstâncias – porem, quando
Ele perdoa, mostra as riquezas de Sua graça em uma escala maior do que
sua mente finita poderia captar. Ele apaga em um instante mil pecados do
mais negro timbre, pecados de uma tonalidade infernal, porque se
deleita na misericórdia, e o juízo é Sua estranha obra. “Porque não quero a morte do que morre, diz O SENHOR; convertei-vos, pois, e vivereis.”
Meu texto proporciona-me essa nota feliz. Não há remissão, exceto com
sangue; mas como o sangue foi derramado, sim, há remissão.
Adentremos mais no texto, temos que insistir agora em sua grande lição que é:
II. AINDA QUE HAJA PERDÃO DE PECADO, NUNCA SE CONCEDE SEM DERRAMAMENTO DE SANGUE.
Essa é uma frase atropeladora, pois
existem alguns seres nesse mundo que confiam em seu arrependimento para o
perdão do pecado. Mais alem de toda dúvida, é seu dever arrepender-se
de seu pecado. Se tiver desobedecido a Deus, deve lamentar
isso. Deixar de pecar não é senão o dever da criatura, pois do
contrário, o pecado não seria a violação da santa lei de Deus. Porem,
deve saber que todo o arrependimento do mundo não pode apagar o menor
pecado. Se só um pensamento pecaminoso atravesse sua mente, e você se
afligisse por ele todos os dias de sua vida, a mancha desse pecado não
poderia ser tirada nem sequer pela angústia que lhe provoca. O
arrependimento é a obra do Espírito de Deus, e é um dom muito precioso e
um sinal de graça – porem não há nenhum poder expiatório no
arrependimento. Em um mar repleto de lágrimas penitenciais não existe
nem o poder nem a capacidade para lavar uma só mancha dessa espantosa
imundice. Sem derramamento de sangue não há remissão.
Porem, outros supõem, de qualquer
maneira, que a reforma ativa que resulta do arrependimento pode executar
a tarefa. Que importa que se renuncie a bebedeira e a abstinência se
converta na regra? Que importa que se abandone a libertinagem e a
castidade adorne o caráter? Que importa que se renuncie aos tratos
desonestos e a integridade seja escrupulosamente guardada em cada ação?
Eu digo: isso está muito bem, queira Deus que tal reforma tenha lugar
por onde quer que seja; contudo, apesar de tudo isso, as dívidas já
contraídas não são pagas pelo gesto de que já não nos endividamos mais, e
as antigas dívidas em mora não são perdoadas pelo bom comportamento
posterior. Então, o pecado não é remetido pela reforma. Ainda que
subitamente você se convertesse imaculado como os anjos (não que algo
assim seja possível para você, pois o etíope não pode mudar sua pele,
nem o leopardo suas manchas), suas reformas não poderiam fazer nenhuma
expiação à Deus pelos pecados antes cometidos nos dias que transgrediste
contra Ele. “Então, que devo fazer?” pergunta o homem. Há os que pensam
que agora suas orações e suas humilhações de alma poderiam, talvez,
lhes conseguir algo. Eu não lhe pediria que fizesse cessar suas orações
se elas são sinceras, antes eu esperaria que fossem tais orações que
pressagiariam uma vida espiritual.
Porem, querido ouvinte, não existe
eficácia na oração para apagar o pecado. Irei expressar isso
enfaticamente. Todas as orações de todos os santos da terra, e se
pudessem agregar-se todos os santos do céu, todas suas orações não
poderiam apagar através de sua própria eficácia natural o pecado de uma
só má palavra. Não, não há nenhum poder persuasivo na oração. Deus não
lhe deu o papel de produto de limpeza. Possuem certamente seus usos,
seus valiosos usos. Um dos privilégios do homem que ora é que ora
aceitavelmente, porem as orações mesmas sem sangue, não podem apagar
nunca o pecado. “Sem derramamento de sangue não há remissão.”, por mais que ores.
Existem pessoas que pensaram que a
renúncia e as mortificações de um tipo extraordinário poderiam
livrar-lhes de sua culpa. Não nos encontramos com freqüência com gente
assim em nosso círculo – no entanto, existe tais que para purificarem a
si mesmos do pecado, flagelam seus corpos, observam jejuns prolongados,
usam cinzas e camisas de saco pegadas a peles, e até mesmo alguns foram
tão longe para imaginarem que refrear-se de banhos e permitir que seus
corpos sejam cobertos de imundice, é a forma mais fácil de purificar
suas almas. Certamente é uma estranha tolice! No entanto, na Índia, hoje
se encontram faquires que sujeitam seus corpos a surpreendentes
sofrimentos e distorções com a esperança de se desfazerem do pecado.
Qual é o propósito de tudo isso? Parece-me escutar o Senhor dizer: “O
que tem que ver comigo que inclines a cabeça como junco e que se cubras
de cilício, e comas cinzas com teu pão e mistures absinto com tua
bebida? Tu hás quebrantado minha lei, essas coisas não podem
restaurá-la; tu tens lesionado minha honra com teu pecado, porem, onde,
está a justiça que reflexa honra sobre meu nome?” O velho clamor nos tempos antigos era: “Com que me apresentarei diante de Jeová?”, e diziam: “Daremos nosso primogênito por nossa rebelião, o fruto de nossas entranhas pelo pecado de nossa alma?” Ai! Tudo foi em vão. Aqui está a sentença. Aqui deve de estar para sempre: “Sem derramamento de sangue não há remissão.”
Deus exige a vida como castigo devido pelo pecado, e nada exceto a vida
indicada no derramamento de sangue lhe satisfará jamais.
Observem, ainda, como esse texto
arruador rejeita toda confiança nas cerimônias, inclusive nas cerimônias
da própria ordenança de Deus. Existem alguns que supõem que o pecado
pode ser lavado no batismo. Á, é uma fútil suposição! A expressão onde é
usada uma vez na Escritura não implica nada desse tipo – não tem esse
significado que alguns lhe atribuem, pois esse mesmo apóstolo de que se
afirmava isso, se gloriava de que não havia batizado a muitas pessoas
para que não se chegasse a especular que havia alguma eficácia em sua
administração desse rito. O batismo é uma ordenança admirável na que o
crente tem comunhão com Cristo em Sua morte. É um símbolo – porem não é
nada mais que isso. Dezenas de milhares de milhares foram batizados e
morreram em seus pecados. O, que beneficio há no sacrifico incruento da
Missa, como diz o Anticristo?[2]
Diz alguém que é “um sacrifício incruento”, e, no entanto, o oferecem
como uma propiciação pelo pecado? Laçamos esse texto em suas caras: “sem derramamento de sangue não há remissão.”
Acaso respondem que o sangue está ali no corpo de Cristo? Nós
respondemos que até mesmo se assim fosse, isso não seria apropriado,
pois é sem derramamento de sangue, sem sangue derramado, o sangue como
algo distinto do corpo – porem sem o derramamento de sangue não há
remissão do pecado.
Prosseguirei para fazer uma distinção que irá mais profundo ainda. Jesus Cristo mesmo não pode nos salvar, aparte de Seu sangue.
É uma suposição que só a tolice alguma vez o fez quando afirma que o
exemplo de Cristo pode tirar o pecado humano, que a vida santa de Jesus
Cristo colocou a raça humana em uma base tão boa com Deus que agora Ele
pode perdoar suas faltas e suas transgressões. Não é assim – nem a
santidade de Jesus, nem a vida de Jesus, nem a morte de Jesus podem nos
salvar, senão unicamente o sangue de Jesus – pois “Sem derramamento de sangue não há remissão.”
Encontrei-me com alguns que pensam
tanto na segunda vinda de Cristo, que parecem ter fixado sua plena fé
sobre Cristo em Sua glória. Eu creio que isso é culpa do “Irvingismo[3]”
que expõe demasiadamente a Cristo no trono diante do olho do pecador;
ainda que Cristo no trono é sempre o amado e adorável, contudo, devemos
ver a Cristo na cruz, ou não poderemos jamais ser salvos. Sua fé não
deve ser posta meramente em Cristo glorificado, mas sim em Cristo
crucificado. “Longe de mim gloriar-se, senão na cruz de nosso Senhor
Jesus Cristo.” “Nós pregamos a Cristo crucificado, para judeus
certamente tropeço, e para os gregos loucura.”
Eu me lembro de um membro dessa
igreja (a amada irmã poderia estar presente agora), que havia sido
durante alguns anos uma professante, porem nunca havia desfrutado de paz
com Deus, nem tinha produzido nenhum dos frutos do Espírito. Ela dizia:
“Tenho estado em uma igreja onde me ensinaram que me apoiasse em Cristo
glorificado, e sucedeu que eu fixei de tal maneira minha confiança Nele
glorificado, que não tinha nenhum sentido de pecado, nem um sentido do
perdão de Cristo crucificado! Eu não sabia, e até que O vi derramando
Seu sangue e fazendo uma propiciação, nunca entrei no repouso”.
Sim, lhe diremos de novo, pois o texto é vitalmente importante: “Sem derramamento de sangue há remissão”,
nem sequer com o próprio Cristo. O meio de quitar nosso pecado é o
sacrifício que Ele ofereceu por nós – só isso, e nenhuma outra coisa.
Sigamos adiante com a mesma verdade:
III. ESSA REMISSÃO DO PECADO DEVE DE SER ACHADA AO PÉ DA CRUZ.
Há remissão e se pode obter de Jesus
Cristo, cujo sangue foi derramado. O hino que cantamos no princípio de
nosso culto proporcionou-lhes o miolo da doutrina. Devemos a Deus uma
dívida de castigo pelo pecado. Estava pendente essa dívida ou não? Se a
lei estava na verdade, o castigo deveria ser executado. Se o castigo era
demasiadamente severo, e a lei era imprecisa, então Deus havia cometido
um erro. Porem, supor isso é uma blasfêmia. Então, sendo a Lei certa e
sendo justo o castigo, faria Deus algo injusto?
Seria algo injusto de Sua parte que
não executasse o castigo. Desejaria que fosse injusto? Ele havia
declarado que a alma que pecasse deveria morrer – desejaria que Deus
fosse um mentiroso? Deveria engolir Suas palavras para salvar a Suas
criaturas? “Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso.” A
sentença da lei tem que ser executada. Era inevitável que se Deus
mantinha a prerrogativa de Sua santidade, devia castigar os pecados que
os homens haviam cometido, então, como Ele havia de nos salvar?
Contemplem o plano! Seu amado Filho, o Senhor da glória, assume a
natureza humana, toma o lugar de todos aqueles que o Pai lhe deu, ocupa
seu lugar, e quando a sentença da justiça é proclamada e a espada salta
de sua bainha, eis aqui, o glorioso Substituto que desnuda Seu braço e
diz “Golpeia, Ó espada, porem golpeia-me a mim, e deixa ir a meu povo”.
A espada da Lei se introduziu na alma mesma de Jesus, e Seu sangue foi
derramado, sangue não de alguém que era meramente homem, mas sim de Um
que, sendo um Espírito eterno, era capaz de se oferecer sem mancha para
Deus de uma maneira que proporcionava uma eficácia infinita a Seus
sofrimentos. Por meio do Espírito Eterno nos é informado que Ele se
ofereceu sem mancha a Deus. Sendo em Sua própria natureza infinitamente
além da natureza do homem, abarcando todas as naturezas humanas, por
assim dizê-lo, dentro de Si, em razão da majestade de Sua pessoa, foi
capaz de oferecer uma expiação a Deus de uma suficiência infinita,
ilimitada e inconcebível.
Nenhum de nós poderia dizer o que
nosso Senhor sofreu. Estou certo disso: que eu não menosprezaria sem
subestimaria Seus sofrimentos físicos- as torturas que suportou em Seu
corpo – porem estou igualmente certo de que nenhum de nós poderia
exagerar ou supervalorizar os sofrimentos de uma alma como a Sua, pois
estão mais alem de toda concepção. Ele era tão puro e tão perfeito, tão
sutilmente sensível e tão imaculavelmente santo, que ser contato entre
os transgressores, ser golpeado por Seu Pai, ter que morrer (devo de
dizer-lo?) a morte de um incircunciso por mãos de estrangeiros, era a
própria essência da amargura, a consumação da angústia. “Com tudo isso, quis o Senhor quebrantá-lo, sujeitando-o a padecimento”.
Suas aflições, em si mesmas, eram o que a liturgia grega bem chama:
“sofrimentos desconhecidos, grandes dores”. De aqui, também, que sua
eficácia seja sem fronteiras, sem limites. Portanto, Deus é capaz agora
de perdoar o pecado. Ele castigou o pecado em Cristo; convêm à justiça,
assim como à misericórdia, que Deus suprima essas dívidas que foram
pagas. Seria injusto – falo com reverência, porem, no entanto, com santa
ousadia – seria injusto da parte da Majestade divina culpar-me de um só
pecado que já foi cobrado de meu Substituto. Se minha Fiança assumiu
meu pecado, Ele me liberou, e eu estou livre. Quem reavivará o juízo
contra mim quando já fui condenado na pessoa de meu Salvador? Quem me
enviará para as chamas do Geenna, quando Cristo, meu Substituto, sofreu o
equivalente do inferno por mim? Quem me acusaria de algo quando Cristo
assumiu já todos meus crimes, e respondeu por eles, os expiou, e recebeu
o sinal da absolvição deles, posto que ressuscitou dos mortos para
poder vindicar abertamente essa justificação, a qual por graça sou
chamado e na que tenho o privilégio de participar? Tudo isso é muito
simples, está contido em poucas palavras, porem, o temos recebido todos –
o temos aceitado todos?
Ó, meus queridos ouvintes! O texto
está cheio de advertências para alguns de vocês. Vocês poderiam ter uma
disposição amigável, um excelente caráter e uma índole madura, porem
possuem escrúpulos de aceitar a Cristo – vocês tropeçam com essa pedra
de tropeço – se despedaçam nessa rocha. Como posso responder a seu
desventurado caso? Não irei raciocinar com vocês. Abstenho-me de entrar
em alguma discussão, porem lhes faço uma pergunta: crêem que a Bíblia é
inspirada por Deus? Olhem, então, aquela passagem que diz: “Sem derramamento de sangue não há remissão”.
O que dizem? Não é claro, absoluto, definitivo? Permitam-me tirar a
conclusão. Se não possuem um interesse no derramamento de sangue que me
esforcei por descrever brevemente existe alguma remissão para vocês?
Poderia existir? Seus próprios pecados estão agora sobre suas próprias
cabeças. De suas mãos serão demandados na vinda do grandioso Juiz. Podem
fazer, podem trabalhar arduamente, podem ser sinceros em suas
convicções e estar tranquilos em suas consciências, ou podem ser
sacudidos de um lado a outro por seus escrúpulos – porem, vive o Senhor,
que não há perdão para vocês, exceto através desse derramamento de
sangue. Por acaso o rejeitam? Sobre sua própria cabeça seja o perigo!
Deus há falado. Não pode dizer-se que a ruína de vocês está desenhada
por Ele quando o próprio remédio para vocês é revelado por Ele mesmo.
Ele lhe pede que siga o caminho por
Ele estabelecido, e se você o rejeita, deve morrer. Sua morte é um
suicídio, seja deliberado, acidental ou por conta de um erro de juízo.
Seu sangue seja sobre sua cabeça. Está advertido.
Por outro lado, que consolação tão
transcendente o texto nos proporciona! “Sem derramamento de sangue não
há remissão”, porem onde existe derramamento, existe remissão. Se você
veio a Cristo, é salvo. Se você pode dizer isso do profundo de seu
coração:
“Minha fé coloca em verdade sua mão
Sobre essa amada cabeça Tua,
No caso que como penitente me apresento,
E aqui confesso meu pecado.”
Então, seu pecado desapareceu. Onde
está esse jovem? Onde está essa jovem? Onde estão esses ansiosos
corações que estiveram dizendo: “quereríamos ser perdoados agora?”
Olhem, olhem, olhem, olhem ao Salvador crucificado, e são perdoados!
Podem seguir seu caminho, no tanto que tenham aceitado a expiação de
Deus. Filha, tenha ânimo, pois seus pecados, que são muitos, lhe são
perdoados. Filho, regozije, pois suas transgressões são apagadas.
Minha ultima palavra será essa:
Vocês que não mestres de outros e tratam de fazer o bem, aferrem-se
firmemente a essa doutrina. Isso deve ser a frente, o centro, a medula e
o tutano de todo o que tem que testificar. Eu o prego com frequência,
porem não há jamais um domingo no que me retire a meu leito com tanto
contentamento no mais íntimo como quando preguei o sacrifício
substitutivo de Cristo. Então sinto que: “Se os pecadores se perdem, não tenho nada de seu sangue sobre mim”.
Essa é a doutrina que salva a alma – apeguem-se a ela e terão possuído
da vida eterna – se a rejeitam, o haverão rejeitado para sua confusão.
Ó, apeguem-se a isso! Martinho Lutero sempre dizia que cada sermão
deveria conter também a doutrina da expiação. Lutero diz que não podia
meter a doutrina da justificação pela fé nas cabeças dos habitantes de
Winttenberg, e se sentia meio inclinado levar seu livro ao púlpito para
arrebentá-lo em suas cabeças, para conseguir que se introduzisse nelas
essa doutrina. Temo que não teria tido êxito se o tivesse feito. Porem,
sim, como eu trataria de martelar uma, e outra, e outra vez sobre esse
prego. “A vida da carne no sangue está.” “E verei o sangue e passarei de vós.”
Cristo entrega Sua vida derramando
Seu sangue: é isso o que lhes proporciona o perdão e a paz a cada um de
vocês, se olham para Ele. Perdão agora, perdão completo, perdão para
sempre. Tirem o olhar de todas as outras confianças e descansem nos
sofrimentos e na morte do Deus Encarnado, que foi aos céus e que vive
hoje para interceder diante do trono de Seu Pai, pelo mérito do sangue
que derramou no Calvário pelos pecadores. Como irei ver a todos vocês
naquele grande dia, quando o Crucificado venha como Rei e Senhor de
tudo, dia que está apressando-se com presteza, como eu os irei ver
então, lhes peço que dêem testemunho de que me esforcei por falar-lhes
com toda simplicidade qual era o caminho da salvação – e se o
rejeitarem, façam-me o favor de declarar que ao menos lhes proclamei
esse Seu Evangelho em nome de Jeová, e que os exortei sinceramente a
aceitá-lo para que fossem salvos. Porem eu preferiria que agradasse a
Deus que os encontrasse ali a todos cobertos com a única expiação,
vestidos com a única justiça, e aceitos no único Salvador, e então
cantaríamos juntos: “O Cordeiro que foi imolado e que nos redimiu
para Deus é digno de tomar o poder, as riquezas, a sabedoria, a
fortaleza, a honra, a glória e o louvor pelos séculos dos séculos”. Amém.
ORE PARA QUE O ESPIRITIO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.
FONTE
Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon3418.pdf
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público e com permissão de Allan Roman do espanhol
Sermão nº 3418—Volume 60 do The Metropolitan Tabernacle Pulpit,
Original em inglês: AN UNALTERABLE LAW
Tradução: Armando Marcos Pinto
Projeto Spurgeon – Proclamando a CRISTO crucificado.
@ProjetoSpurgeon
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